Cada fotografia possui uma história, algumas são mais interessantes do que outras é claro, mas para quem observa sempre fica a dúvida: "Como ele fez essa foto?".
Eu posso dizer que faz parte da natureza do fotógrafo estar atento, mas os melhores fotógrafos procuram sempre antever as situações para conseguir fotos impactantes. Diante disso, vamos a história dessa fotografia.
No dia 28/06/2011, uma terça-feira, eu combinei de almoçar com minha esposa em um restaurante na praia que Cabeçudas próximo ao trabalho dela. A ideia era almoçar e depois ficar no carro pegando um solzinho bem agradável naquele dia frio.
Após o almoço já estávamos tomando sol no calçadão de Cabeçudas quando uma draga que fazia a manutenção do canal navegável do porto acaba de passar dos molhes em direção ao mar. Ela segue seu curso até certa altura quando então começa a despejar a mistura de água, lodo e areia que retirou do fundo do rio Itajaí-Açú. Mas ela fez isso de uma maneira que eu ainda não tinha visto, jorrando a mistura para cima, formando um lindo arco.
Eu, como de costume, estava com a câmera no carro e falei "vamos para o molhe que de lá eu tenho uma visão melhor dessa cena".
Chegando no molhe e com medo de perder tempo caminhando até a ponta, optei por fotografar ali da praia da Atalaia mesmo. Fiz fotos ótimas e estava satisfeito com aquela bela visão, então avistei um barco de pesca vindo ao longe. Na hora pensei, se ele passar na frente da draga vai ser fantástico.
Neste ponto entra uma questão que para qualquer fotógrafo de natureza, paisagem, etc, é fundamental: antever o que pode acontecer.
O barco de pesca passou exatamente onde eu previa, fiz alguns cliques e este em especial, onde ele dá a impressão de ter passado por baixo do arco, para mim foi o ponto alto daquele momento.
Esta fotografia mostrava uma draga fazendo a manutenção da profundidade do canal que permite o acesso de navios grandes aos portos de Itajaí e Navegantes pelo Itajaí-Açu, o mesmo rio utilizado pelo barco de pesca para descarregar seus pescados. Assim como no rio e no mar, duas atividades econômicas importantes estavam enquadradas na fotografia.
Dois anos depois, influenciado por esta foto, eu estava escrevendo o projeto fotográfico Homens do Mar, que tem me levado a percorrer o litoral brasileiro fotografando as atividades econômicas onde o homem se relaciona com o mar.
Para finalizar fica a reflexão: Se escolhêssemos outro restaurante, se a draga demorasse 30 minutos a mais para sair do canal ou se o motorista do barco decidisse passar pelo outro lado essa fotografia não seria a mesma, não teria o mesmo impacto e acredito que não despertaria em mim a ideia para o projeto.
Um grande fotógrafo francês chamado Henry Cartier Bresson cunhou o conceito do "Instante Decisivo" para a fotografia. Em resumo, seu conceito diz o seguinte:
"O instante decisivo acontece em uma fotografia quando elementos visuais e emocionais se unem em perfeita harmonia e expressam a essência da situação presenciada pelo fotógrafo."
Eu posso dizer com certeza que ele estava coberto de razão.
E você, o que achou desta história? Pode me responder diretamente neste e-mail que eu quero saber sua opinião.
Até a próxima história!
Atenciosamente,
Leonardo Bittencourt
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